Como agradar uma mulher

Todos os anos, no dia de hoje, a sociedade (em sua maioria, os homens) imaginam mil maneiras de agraciar as mulheres, “este ser tão belo, gracioso e blá blá blá”. Vamos então, facilitar este trabalho e oferecer algumas dicas para os machos desavisados sobre como agradar as fêmeas humanas.

Antes de tudo, deixe em casa aquela rosa, se a força das suas palavras murcha mais rápido que ela. A melhor delicadeza que você pode nos oferecer é o respeito.

Respeite e, acima de tudo, faça valer nosso direito de decisão. De decidir sobre nosso corpo, nossa sexualidade, nossos parceiros e nossos filhos. De decidir sobre nossa profissão, sobre ser dona de casa ou motorista de carreta. De decidir sobre a roupa que vestimos e sobre nossa própria personalidade. Respeite nosso direito de demonstrar insatisfação com o sistema patriarcal milenar que nos amputou os poderes dos deuses. Respeite a queima dos sutiãs e todas as nossas revoluções, em praça pública ou dentro de casa.

Poupe nossos corpos das suas cantadas infames, da exploração e do estupro, da violência doméstica, da mutilação genital, da publicidade abusiva e das idéias distorcidas do padrão fixo de beleza.

Não nos condicione nas regras “mulher isso”, “mulher aquilo”. Não nos encaixe em estereotipos; compreenda que encarnamos vários arquétipos em diversas fases da vida. Ou mesmo em um só dia.

Respeite a decisão da menina, da mulher e da anciã. Não mine o sonho das donzelas, não duvide da força de uma mãe e ou daquela mulher cujo poder reprodutor transformou-se em sabedoria, acumulada ao longo dos anos.

Aceite que uma mulher pode ser feliz sem um homem, sem um filho e sem um pote daquela margarina em promoção. Aprenda que a realização feminina é individual e que não existe nenhuma mulher igual à outra.

Não limite nossos cérebros aos cuidados com a aparência, à vida doméstica, ao apreço pelo romance, às alterações hormonais e um eventual surto consumista. Mulheres também se preocupam com política, economia e demais ramos da ciência, filosofia e arte.

Entenda também que mulheres podem dirigir, lutar, atender e ensinar tão bem quanto os homens. Lute, portanto, para que a capacidade intelectual da mulher seja reconhecida como igualitária e que iguais também sejam os salários dos cargos de muitas empresas e entidades.

Além disso, mantenha em mente que o que você vê andando pelas ruas, nos shoppings centers, nas feiras livres e nos carnavais são seres humanos, com certezas e inquietações, direitos e deveres, e não meros pedaços de carne à disposição do seu prazer.

Por fim, compreenda que a mulher é um animal que foi mantido acuado por longos e dolorosos anos, mas que ainda é capaz de, à primeira esperança de libertar-se, lutar com garras e dentes pelo seu direito de ser inteira e de conviver em paz.

Afinal, como diz a psicanalista Clarissa Estés, “não importa de que forma a cultura, a personalidade, a psique ou outra força qualquer exija que a mulher se vista ou se comporte; não importa que todos possam desejar manter as mulheres vigiadas; não importa que tipo de pressão tente reprimir a expressão da alma da mulher, nada disso pode alterar o fato de que uma mulher é o que é, e que sua essência é determinada pelo inconsciente selvagem, o que é bom”¹.

Que hoje seja, portanto, um dia de lutas e realizações contra a misoginia e pelos direitos das mulheres. A todos, um honesto 8 de março.

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¹ Na obra Mulheres que correm com os lobos, com algumas adaptações.