Por dois minutos de futilidade

Dentre as inúmeras coisas que eu já quis ser, uma delas era estilista. Eu queria ser a baixinha feia caminhando atrás das belas modelos nos finais dos desfiles, desenhar roupas esdrúxulas dizendo que foram inspiradas nos quadros de Picasso e ganhar uma nota com isso. Adorava ver desfile (até hoje ainda gosto, confesso: mea culpa...) e sonhava com uma vida maluca. E sonhava.

E conversando sobre moda hoje, percebi que ainda gosto do tema e, por essa mesma razão, tenho a audácia de tecer meus comentários sobre o que anda vestindo nossos digníssimos corpinhos que nasceram nus. Primavera-pavão, digo, verão. Versões do cotidiano. Roupas que cabem três amigas abraçadas dentro e as transforma em seis balonesas cítricas. Tudo muito solto, ora com leggings saindo do forno das academias, ora com cintos na região das Antigas Cinturas (aquelas que ficam cada vez mais distantes dos Países Baixos) ou ainda (não sei se menos pior ou o quê?) extremamente solitários, porque sem aparecer a popa da bunda¹ não tem graça. Brilho em cima, elástico embaixo e qualquer semelhança com barris de glitter será mera coincidência. Cara, essa é uma das modas mais feias que eu já vi desde os meus tenros anos!

Mãs, como eu também tenho meus desvios, meu digníssimo até hoje combate minha tentação quanto aos animais (onças², tigres, zebras), embora seja a única. Ainda não me convenci, com a bênção dos anjos, de que eu fico um arraso com aquele vestidinho tutti-fruti. É, eu sei que tenho esse talento amaldiçoado para a chatice sometimes, mas eu me revolto. E esse blog, vocês sabem, é pra quando eu perco os escrúpulos.

Mas a moda não é ruim. Quer dizer, nem sempre. Eu até passei o reveillon de shortinho, porque graças aos deuses, na temporada passada, entenderam que no Nordeste faz um calor doentio e que a gente precisava adotar o short como um negócio apresentável, e não condená-lo ao patamar de peça exclusiva do guarda-roupa da faxina. Mas parece que a onda toda terminou. E agora o estimado shortinho, que deixava todo mundo sentar à vontade, deu lugar as temíveis sainhas-curtinhas-rodadinhas sob as quais você não pode andar em lugares abertos sob pena de mostrar a bunda-rica a qualquer cidadão.

Ainda assim, eu gosto da moda. Gosto, mais ainda, do estilo. É bacana ver uma pessoa transparente, que veste sua personalidade, que mostra na moda os seus valores. Dá para imaginar, por exemplo, um ativista ambiental usando peles? É preciso ser coerente. E lembrar, como sempre digo, que existe a moda de se ver e a moda de se usar. Há peças lindas desfilando por aí nos manequins das lojas ou nos anoréxicos corpos das passarelas. Mas que não sentam. Simplesmente n-ã-o s-e-n-t-a-m. Para entender, me imaginem de vestidinho saint-tro-peito, tecido fino, rosa. Imaginou? Já pode sair correndo.

Se dependesse de mim, quase não haveria delicadas blusas de alcinha, estampas extravagantes ou essas enormes bolsas de astronauta. E daria vida longa aos brincões, ao jeans, às camisetas e a todos os sapatos do mundo. Mas eu reconheço: a graça mora nos detalhes e que o mundo fica bem mais colorido (erh...) em virtude, exatamente, dessas diferenças. Gritantes.

E, se não houvessem essas coisas, de que eu iria tirar onda?

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¹ Sabiam que popa da bunda é, na verdade, um pleonasmo? Popa, segundo o dicionário Michaelis, significa “nádega”. Mas, talvez nem seja pleonasmo. Afinal, uma bunda tem duas nádegas. Isso é, definitivamente, algo a se debater.
² Mas oncinha é tãããão fashion!
Imagem: Coleção Primavera-Verão 2007 da C&A. Não se enganem, nas modelos tudo fica mais bonito!

8 comentários:

Guide disse...

Gostei de ver Chris!!! Chuta tudo :P hehehe Eu gosto da moda também, porém a indústria que hj surge dela acaba por criar uma ditadura bastante visível, o que acaba excluindo e incluindo quem segue suas regras ou não. Eu acredito que nada deve ser 8 ou 80 assim o que é tendência não é o certo e sim uma inspiração que a gente pode gostar ou não, a moda deve ser filtra de acordo com o estilo, espontâneadade de cada um e usada com liberdade... só assim é que presta.

PS: Adorei o texto ficou com um ritmo bem divertido e animado. E realmente imaginas você no estilo paty é praticamente impossível rsrsrsrs

Bjsssss

Ivo Medeiros disse...

Sinceramente, não entendo de moda.
Quando penso que uma roupa é bonita, logo me falam “isso não se usa mais”.
E tipow... sei lá... passando pelo shopping ontem, as vitrines pareciam um coquetel de cores. Ou melhor de frutas mesmo. é vestido com abacaxi, é blusinha com morango, é saia com mamão...
Tipow... isso é moda??? Se for... sou muito antiquado.
:P

thiagoleal disse...

É complicado que eu poste aqui porque pra mim moda se resume a chinelo, jeans e uma camisa lisa (vc jah me viu na faculdade =P)

Não acho que moda seja (tanta) futilidade, pq quem cria tem um conceito - td bem que nem sempre as pessoas sejam as mais inteligentes e querem aparentar ser, tipo o clodovil - mas há uma idéia naquilo tudo.

Eu só me sinto desconfortável me vestindo de um jeito que todos irão me olhar, coisa do tipo. Por isso nem uso minhas camisas de futebol - até porque não me considero digno delas.

Favoritei =P

=* xOx

Anônimo disse...

Essa nova moda aí é uma palhaçada! (citando o away) Essas jovens aí ficando andando com esses vestidos que mais parecem um balão de são joão que erraram na hora de soltar. Essas frutas toscas e cores toscas... É uma embriaguez de sucesso.

Eu nunca gostei muito de moda, posso até apreciar comprar minhas próprias roupas, mas as tendências de estação para estação foi algo que eu sempre tentei me manter longe. Assim como tento manter você longe dessas estampas de onças e outros animais, porque isso é coisa do diabo veste prada.

Anônimo disse...

Aqui estou para finalmente comentar.
É dificil comentar sobre roupas, mesmo pq eu não tenho um estilo fixo, tudo depende do meu humor, uso de (quase) tudo, roupa esportiva, fina, paty, hip-hop, rock, whatever, e segundo as meninas da minha sala meu estilo é massa por essa diversificação e por eu combinar com todos e aderir a eles quando me visto. Me visto conforme meu espírito.
Como falei anteriormente gosto de quase tudo, mas pense numa moda que não me agradou foi essa, tá uma combinação de cores que dói na vista, uma vesti~dos balões que nada valoriza o corpo da mulher (principalmente a brasileira), simplesmente nada valoriza nada.
E olha que eu gosto de roupas com cores, de estamba, de todas as cores, mas o problema das roupas das vitrines é o exagero, é um desconexo, é o psicodelico extremado.
E eu sigo meus dias usando minhas roupas cada dia de um jeito diferente, não sou de seguir a moda, nunca fui, mas essa tá brega demais e prefiro me afastar (mas como um consumidora é claro que comprei meu vestidinho colorido, mas o mais discreto dentre eles, kkkkkkkkk).
Beijinhus

Anônimo disse...

Ah mais uma vez, congrats pela narrativa, poucas pessoas envolvem o leitor como vc faz, e não é por vc ser minha mana, mas seus textos envolvem demais e eu sempre acabo rindo de uma forma ou de outra.

thiagoleal disse...

A Chris pagou ao pandinha!

Lu disse...

Bom, nunca fui de seguir as tais tendências, não tenho saco nem a sensibilidade de combinar perfeitamente o tipo de roupa que se deve usar nas quatro estações do ano... Vale ressaltar que estou vestindo um short rasgado de lado enquanto escrevo estas linhas ._.
Bom, mas eu acho muito interessante a profissão de estilista, concordando com o Tiago, o estudo que eles fazem sobre composição, cores e texturas ajudam a conceitos interessantes que por sua vez, nos ajudam, Publicitários $_$
uahauhauah brincadeira xD
Adorei o texto, mesmo n me interessando sobre moda, vc escreve de um jeito gostoso de ler \o\
Bjus