XYZ: O que odeio em mim

Já li em vários livros de auto-ajuda e outros lugares tão sombrios quanto, que o ser humano é, na verdade, um espelho e, por isso, tudo o que ele odeia no outro é um reflexo do que odeia em si mesmo. Eu não engolia nada disso, até que me peguei num dos clássicos momentos de auto-análise (os mais chegados sabem que eu faço MUITA auto-análise) e cheguei à conclusão que essa teoria tem, pelo menos, um pouco de verdade.

Não vou citar nomes para a coisa não virar barraco, mas observem comigo como faz sentido e, depois, tentem reproduzir essa experiência para ver se dá certo e se pode virar científico, hehe.

O que odeio em X: Covardia. X peca por omissão, por não ter peito de assumir o que sente ou o que é e, em razão disso, disfarça e joga. É do tipo de pessoa que prefere inventar uma história de que está a fim da(s) sua(s) melhore(s) amiga(s) para poder ver se você termina o relacionamento que ele não tem coragem de terminar. E o que isso reflete em mim? Eu odeio minha própria covardia. Odeio não ter coragem de dizer o que penso das pessoas para não ofendê-las, odeio querer poupar as pessoas de ouvir verdades ou opiniões que elas precisam ouvir, enfim, odeio “pinar” e, por vezes, pino.

O que odeio em Y: Futilidade. Eu tenho raiva e agonia de pessoas que se importam excessivamente com corpo sarado, roupas da moda e padrões de beleza. O que isso tem a ver comigo? Odeio o fato da minha auto-estima ser parcialmente dependente da minha aparência. Odeio aquela sensação de que minha vida vai mudar se eu comprar aquela camiseta e aquela bolsa. Afinal, se tenho saúde (na medida do “tenho os cinco sentidos, dois braços, duas pernas etc”), inteligência, casa, comida, roupa lavada e tantos outros aspectos positivos, por que deveria me importar tanto com a barriguinha saliente ou com o cabelo ressecado?

O que odeio em Z: Posição de vítima. Z sempre foi e sempre será a pessoa mais sofrida e carente de atenção da face da terra. Conhecem o paradigma “O mundo é tão cruel que só me resta chorar”? E me dá nos nervos a manipulação que existe por trás dessa posição. Em que isso me diz respeito? Reconheço que várias vezes assumo o papel de vítima, mesmo sem querer. Sendo esse comportamento derivado ou não de alguns problemas de auto-estima, é uma posição odiosa e sem-vergonha. Odeio também quando minha sensibilidade aflora e, diante de dada situação, eu fico parecendo uma condenada. Na minha cabeça, é um claro sinal de fraqueza que não aprovo.

Percebe-se, portanto, que a teoria não se aplica necessariamente aos indivíduos que odiamos, mas aos padrões comportamentais. Para citar um exemplo, todos sabem o quanto eu odeio machismo e fundamentalismo religioso. Mas isso também significa que eu odeio grande parte das idéias patriarcais e cristãs que herdei da minha família e da minha cultura e que estão tão impregnadas na minha personalidade que, às vezes, nem as reconheço. Busco combater diariamente, por exemplo, a noção cristã de culpa e castigo, assim como o machismo disfarçado na minha noção que “conversa de mulher” é uma coisa tediosa.

Todavia, não acredito que absolutamente todas as coisas a que temos repúdio sejam necessariamente parte de nós mesmos. A não ser que nos encaremos num sentido mais amplo, por exemplo, partindo da perspectiva de que é natural odiar as barbáries cometidas pela nossa própria espécie.

Contudo, não creio que eu esteja em guerra contra o salmão que há dentro de mim só porque não gosto de comida japonesa. Afinal, como diria o pai da Psicanálise, um machista controverso e fascinante, “às vezes um charuto é apenas um charuto”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bom, aconteceu da maneira planejada, acabei apenas lendo o texto em um momento 'sem ter o que fazer no estágio' :)
Primeiro, deixe-me comentar que eu adorei o título, super original.
Agora vamos ao 'miolo' do texto, minha opinião não é muito desconhecida pra vc, já que comentamos sobre 'quase tudo, quase todo tempo', mas vamos lá...
concordo em partes, com o que alguns psicanalistas falam a respeito de que odiamos nos outros aquilo que mais odiamos em nós mesmos, tem um certo sentido como vc demonstrou no seu texto em relação a vc, acredito que muito do que criticamos dos outros na verdade estamos nos criticando, mesmo sem perceber.
Mas, seguindo a sua linha de raciocínio, não vamos generalizar, né? Nem tudo o que odiamos são os nossos comportamentos, 'as vezes um charuto é apenas um charuto', frase corretíssima do nosso amado e odiado Freud.
Bom, espero todo dia ter um texto seu pra ler e comentar.
One more time... Gratz!

Anônimo disse...

Olá Chris! Ó eu aqui! Faz tempão que não apareço... pow já tinha lido esse seu post e lendo novamente fiquei pensando, o que odeio em mim? Afinal como a gente mesmo conversou falar dos outros é fácil, agora da gente o bicho pega, né? hehehe Então o que eu odeio em mim definitivamente é a preguiça, ela realmente me derruba ou eu a alimento, acredito que é mais a segunda opção. É ruim isso, você acaba deixando de fazer muitas coisas e ainda se sente meio inútil por não fazer... É um círculo vicioso desgraçado, pense,porém posso ressaltar um ponto positivo: hj me considero bem menos do que antigamente, me sinto mais inspirada e animada, já é um começo. Espero.

Abraçãooo

Anônimo disse...

Adorei o post. Interessantemente, essa é uma das frases que mais cito... Obviamente - como você mesma disse - não dá pra generalizar, mas se prestarmos realmente atenção do pq detestamos certas pessoas, é por causa daquela manchinha que tentamos esconder em nós mesmos. Auto-análise é bom, tenho por hábito tb... ainda mais quando a gente poupa 120 reais de uma consulta *¬*/

Bjus