Rapadura é doce...

Enfim, passou o primeiro domingo de maio, dia das mães. Há essa altura, todas as mulheres que pariram ou adotaram crianças estão já de saco cheio dos melodramas dos comerciais, das rosas e algumas até do paparico forçado dos filhos ou daquele novo liquidificador depois do terceiro ano pedindo um presente menos... doméstico.

Como ano passado já prestei minhas devidas homenagens, resolvi que esse ano seria um bom momento para me perguntar quais reflexões eu me faria se fosse mãe. Naturalmente, essas perguntas correspondem à minha perspectiva do que é ser um bom parent, ou seja, uma pessoa disposta a ajudar outra a evoluir e a encontrar seu próprio papel na sociedade. Embora eu não pretenda desempenhar essa função, espero que essas reflexões ajudem aqueles que desejam, ou mesmo aos que já o fazem.
  • Estou criando meus filhos para o mundo ou para mim? Permito que eles caiam para aprender a levantar? Estou superprotegendo-os ou lhes negligenciando atenção? Enxergo o desenvolvimento da sua identidade, além de sua evolução física?
  • Será que sou consciente da minha responsabilidade sobre os traumas e padrões de pensamento que estão sendo registrados neles neste momento e poderão ter sérias repercussões futuras? Será que sei que, daqui a alguns anos, eles serão adultos e, como adultos, livres das “barras da minha saia”?
  • Pratico violência com meus filhos? Manifesto minha raiva ou minha decepção através de palmadas e insultos ou de um diálogo franco? Se bato, como me sinto ao bater? Covarde, poderoso? Como me sinto ao dialogar? O que penso sobre o castigo? Desejo realmente punir ou ensinar? E como permito que eles canalizem a violência? Proíbo brinquedos e jogos violentos? Se sim, de que outra maneira eles descarregam essa energia? Se não, observo se o conteúdo exerce influência sobre o comportamento deles?
  • Forneço aos meus filhos abertura e confiança para que porventura eles venham a me contar se estiverem sendo violentados ou abusados sexualmente? Dialogo com eles? Incentivo-os a valorizar a verdade e a honestidade? Eles confiam em mim?
  • Converso com eles abertamente e esclareço suas dúvidas sobre sexo? Incentivo o ensino de educação sexual na escola, para que eles se desenvolvam integralmente sabendo como são as relações sexuais na vida real, livre tanto das fantasias excessivamente românticas quanto da pornificação da mídia; ou delego essas funções a outros? Meus filhos entendem que devem respeitar o desejo de seus parceiros? E seus próprios desejos? Entrego preservativos aos eles, independentemente de seu sexo? Explico-lhes sobre métodos contraceptivos? Estou preparada para saber se forem homossexuais?
  • Conheço os amigos dos meus filhos ou critico-os por tirá-los dos estudos e pelas horas no computador? Proíbo meus filhos de namorar? Permito que eles saiam à noite? Converso com eles sobre drogas? Sobre o prazer que dão, mas as conseqüências que exigem?
  • Confio que a educação que lhes dei os ajudará a tomar decisões mais sábias? Estou atualizada no que diz respeito ao seu universo cultural?
  • Imponho aos meus filhos a minha religião? Dou-lhes o direito de escolher no que crer ou tolho-lhes a decisão? Acredito que são imaturos ou insolentes para fazerem esse tipo de escolha?
  • Ensino-os que não há distinção de direitos entre pessoas de cor ou classe social distintas da sua? Os reprimo quando reproduzem comentários racistas ou preconceituosos? Ou rio e ridicularizo as pessoas junto com eles?
  • Promovo uma educação não sexista dentro de casa ou estipulo papéis de gênero para eles, desde a infância? Eles acreditam que homens e mulheres têm funções diferentes na sociedade? Que exemplos recebem dentro de casa? Ele se acha superior às colegas meninas? Ela se acha inferior aos colegas meninos? Como reajo se sei que sua escola promove essas diferenças, inibindo meu filho de brincar com bonecas, ou minha filha de praticar esportes?
  • Estimulo minha prole aos estudos e ao desenvolvimento do intelecto? Leio na frente deles? Para eles? Coloco livros à sua disposição? Eu acredito na evolução através do conhecimento? Desejo que isso, de fato, se estenda à minha família? Ouço músicas que considero de qualidade na frente deles? Estimulo minha filha a dançar funk? Quanto tempo deixo-os na frente da televisão? O que eles estão assistindo?
  • And last, but certainly not least: preparei-me para ser mãe ou pai? Exerço esse papel por vocação ou porque a sociedade me exigiu? Tenho abertura com meus filhos sobre a dinâmica da nossa própria família? Desejo que ele entenda que existem famílias diferentes da nossa? Reflito sobre meu papel? Ou simplesmente acredito que criar filhos é algo inato e instintivo, que qualquer um é capaz de fazer?

3 comentários:

Celina Modesto disse...

Por essas e outras eu não pretendo ser mãe. Acho que nunca farei um trabalho tão bom quanto o da minha mãe, ou então serei muito mesquinha para ensiná-los alguma coisa que valha a pena. Gostei muito do seu texto e, olha só, você é comunicóloga e eu faço Comunicação! ;) hehehehe...

Rafaela Paiva disse...

Acho interessantes desmistificar alguns mitos, como se a maternidade fosse a melhor coisa na vida de uma mulher, pode até ser, para muitas, uma grande realização, mas que é uma processo de mudanças que nem sempre é boa, ninguém comenta.
São várias hipóteses que devemos levar em conta antes de colocar um filho no mundo, a maioria das pessoas tem filhos ou por "acidente" do destino ou quando decidem não param pra pensar, fazem instintivamente ou até mesmo por uma pressão da sociedade.
Por essas e outras as vezes coloco meu lado materno em dúvida, quero ter filhos porque é um desejo genuíno ou porque é o modelo a sociedade? Será que estou pronta para todos os desafios que criar um ser humano requer? Bom, não sei responder exatamente mas por enquanto ainda digo que quero filhos, mesmo que não agora.
Ser mãe ou pai vai muito além do que manter uma criança viva.
são tantos questionamentos quanto a esse assunto que isso poderia render um livro.

guide disse...

Chris...puxa foram tantos questionamentos e profundos que fiquei meio tonta no final do texto rsrsrsr (sério!)Foi praticamente uma metralhadora de questões existenciais maternas.

Mas certamente ainda são poucas comparadas com uma vida repleta dessas e muitas outras perguntas que surgem. Afinal ser responsável pela vida de outra pessoa não é tarefa fácil, definitivamente.

Eu nunca achei que pra uma mulher ser completa ela precisa ter filhos, nunca mesmo. Acho que pra ser completa ela deve estar satisfeita com sua vida, a plenitude é muito subjetiva e varia de pessoa pra pessoa é a mesma coisa que dizer que toda mulher sonha em casar... num é bem assim...

Hoje temos algo que é pouco vivido, a liberdade, mesmo que hajam muitas teorias da conspiração por aí que digam o contrário, nós temos muito mais espaço pra fazermos o que queremos do que antes...nos anos 70 se lutava com fervor por tal liberdade e hj q a temos é tudo tão apático e forçado, mas uma força que surge como uma pressão psicológica de que temos que fazer certas coisas nas idades certas, como se tudo estivesse pré-determinado...não gosto disso.

Eu faço o que quero na hora que quiser e não me encham o saco por favor, né assim que tem que ser?

Graças a Deus fui criada por pais que me deram liberdade pra escolher minha religião e que até hj me dão estrutura e apoio para fazer minha própria história e construir aquilo que eu quiser. Sou muito grata a isso. Minha mãe sempre diz..."não quero que vc tenha a minha opnião nem a do seu pai, nem a dos livros que lê, nem de ninguém, quero que vc filtre tudo isso dentro de você e descubra o que vc realmente quer e acha"

Não sei se seria capaz de fazer um serviço tão bem feito como o que ela fez comigo. Não sei se quero, mas isso eu vou descobrir com o tempo, sem cobranças ou qq pressão, livre na hora que me der vontade hehehe

Vou para por aqui expurguei demais...

Abração Chris \O/