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Rola sempre essa insegurança no início de um texto. Há quem prefira a folha branca observando atentamente enquanto você não consegue pensar em nenhuma merda que valha a pena registrar. Os mais modernos acham o Word mais excitante, principalmente esse do Office 2007, todo reformulado, mais sutil, mais slim, combinando com o novo monitor de cristal líquido.

Eu nunca entendi exatamente o que é um cristal líquido e confesso estar num desses momentos em que se quer falar de várias coisas, mas especificamente de coisa alguma. Antigamente eu usava meus blogs como diários e agradecia a cada alma caridosa que deixava um comentário sobre a minha rotina de adolescente espirituosa. Hoje, me preocupo tanto com o tipo da porcaria que eu vou botar aqui, que acabo sem escrever nada.

Se me falta inspiração, apelo para a revisão dos posts meia-boca que deixei para trás, escritos naqueles dias em que o papel insolente nem teve tempo de tirar onda com a minha cara, pois já o havia violado várias vezes com minhas abordagens rudes – é que eu escrevo em letras grandes e em cima do colchão.

Sem muito sucesso, resolvo pesquisar nos textos de pessoas inteligentes, e me frustro: nunca vou saber escrever tão bem quanto elas. Sigo então para os textos da concorrência, para ver se tomo a dose de veneno necessária para vomitar uma crítica tosca aos cotidianos que considero medíocres. Do mesmo modo, nem sempre funciona, pois ultimamente eu tenho, em alguns momentos, achado meu próprio cotidiano medíocre; ou aprendido a agüentar tanta ignorância, intolerância e hipocrisia, na internet e, principalmente, fora dela, que meu radar crítico anda meio preguiçoso, mais com vontade de se adaptar à realidade do que exatamente lutar contra ela.

Várias vezes sinto a vontade de tirar do baú aquela máscara de cidadã brasileira feliz, que malha, procura emprego, vai ao salão, pensa no nome dos futuros filhos, faz economia, check-up de saúde, se diverte na balada, veste as roupas da moda, dama na rua, puta na cama, tão ligada na promoção de caju no supermercado quanto na taxa do dólar e nos índices da gripe suína.

Well, embora não necessariamente essas atividades me incomodem. É o encaixe nelas que incomoda.

É isso. É, definitivamente, o encaixe que incomoda.

2 comentários:

Rafaela Paiva disse...

Nossa, ela postou!!! Acho que meus aperreios ajudaram, não foi? quase toda manhã passava por aqui e nada, era frustrante.
Bom, e o post foi sobre tanta coisa que é dificil comentar :(
Porém quanto ao "encaixe" a "máscara" i know exatamente o que vc acha a respeito e concordo em quase 100%. É a vida! A gente se adapta ao que nos é imposto, muitas vezes tirando a espontaneidade e o genuino, sem contar que muitas vezes isso ocorre sem "querer" pq muitas vezes vivemos no automático, e não me excluo disso, quantas vezes o dia é tão corrido que vc não para pra pensar no que está fazendo ou vai fazer, quando vê já fez e pronto. É lasca!
Continua postanto please!!!

Sílvio disse...

Mais milagre do que ela postar, só eu comentar!

Você falou sobre seu antigo blog diário... Embora eu não seja grande aprovador desse tipo de blog, devo dizer que ele me ajudou muito a ficar a par da sua vida quando a gente ainda estava paquerando. Eu visitava diariamente. =)

Já quanto à inspiração para escrever, eu acho que vem funcionando para você. Todos os posts são muito bem escritos, com uma veia sarcástica que tornam essas crônicas muito engraçadas. lol.

É o caso dos comentários sobre a máscara da cidadã brasileira feliz. Acabei rindo na frente dos procuradores que estão na sala (bad). São tiradas inteligentes.

Bem... Para não dizer que esse comentário foi inútil, colo aqui o link da wikipedia sobre o que é cristal liquido. lol.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristal_l%C3%ADquido