O que fazer contra o machismo?

Acompanhei recentemente uma discussão acerca de soluções para acabar com o machismo. Apesar de considerar a idéia mais do que pertinente, vi que muitas pessoas acreditam na revanche como caminho. Não cabe a mim, todavia, criticar esse desejo, pois diante da barbárie que acontece com as mulheres mundo afora (aborto seletivo de meninas, mutilação genital, exploração sexual, estupro como arma de guerra, violência e assassinato doméstico e tantas outras realidades que estão, em alguns aspectos, longe da nossa) não é difícil desejar que os homens que cometem esse tipo de crime sofram mesmo, física e psicologicamente. E também é triste admitir que, embora saiba que já há pessoas movendo mundos e fundos para “salvar” as mulheres da opressão nesses países, não encontro soluções plausíveis para acabar com atuação do machismo em tais níveis.

No entanto, parei para pensar quais seriam as ações e atitudes que ajudariam a afastar a mentalidade machista do nosso país. Da escala mais ampla e social para a mais cotidiana e individual, eis as sugestões (que não vou dizer que são minhas, pois são fruto de leituras de opiniões de outr@s feministas):

Grande escala:
  • Criação de lei contra discriminação de gênero, inspirada nas por cor e orientação sexual.
  • Conscientização e cursos de humanização para policiais e profissionais envolvidos no momento de receber denúncias e ocorrências sobre violência doméstica e estupro. Não mais permitido perguntas como “com que roupa você estava antes do ‘incidente’?” ou “o que você fez para merecer que ele lhe batesse?”, como se a vítima tivesse “provocado” o agressor para agir daquela forma.
  • Trabalho social obrigatório junto a organizações com foco nos direitos da mulher para os condenados por crimes de violência ou discriminação por gênero.
  • Implantação da visita íntima em todos os presídios femininos.
  • Mudança no Currículo Nacional com implantação da disciplina de Educação Sexual para crianças e adolescentes. No conteúdo, abordagem dos aspectos biológicos e psicológicos da sexualidade e incentivo ao respeito às diferentes orientações sexuais humanas.
  • Mudança no Currículo Nacional com o fim da educação religiosa nas escolas que, na maioria esmagadora das vezes, fortalece as noções de “papéis de gênero”. Religião se discute em casa ou se aprende na igreja, a Escola de um país laico nada tem a ver com isso.
  • Descriminalização da prática de aborto e desenvolvimento de políticas públicas de planejamento familiar e direitos sexuais e reprodutivos das mulheres (“Educação sexual para prevenir, contracepção para não engravidar, aborto legal para não morrer!”)
  • Mídia: repressão a conteúdos sexistas e preconceituosos veiculados sob pena de multa em dinheiro; divulgação e incentivo à produção de matérias, reportagens e propagandas (governamentais ou privadas) que combatam a idéia de objetificação das pessoas e a violência de gênero.
Média escala:
  • Realização de palestras, cursos e eventos junto às comunidades para uma educação menos sexista e preconceituosa e para começar aos poucos a mudança de pensamento do “Não faça isso porque você é uma mocinha”, “Seu irmão pode carregar camisinha porque é homem” para “Gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis são problemas para ambos”.
  • Pequenas mudanças na linguagem sexista utilizada na educação (de “o homem” para “os seres humanos” ou “a humanidade” e outras modificações sugeridas por estudiosos da área).
  • Incentivo a formação de grupos de estudos em escolas e comunidades para o conhecimento e discussão acerca das relações de gênero e sexualidade.
Pequena escala:
  • Críticas a comentários machistas, ainda que advindos de pessoas próximas ou parentes.
  • Divulgação de conteúdos que incentivem a igualdade de gêneros (camisetas, cartazes, faixas, textos, sites, blogs etc.)
  • Estímulo às gentilezas de ambos os sexos e combate às noções pré-definidas de que o homem é que deve carregar peso, a mulher não pode pagar conta etc.
  • Oferecer às crianças de ambos os sexos todos os tipos de brinquedos e não apenas aqueles “destinados” a meninas (bonecas, utensílios de cozinha) ou meninos (carrinhos e bolas). Homens e mulheres devem cuidar dos afazeres domésticos (na falta de profissionais específicos) e dos filhos (caso tenham ou desejem ter) e dividem as mesmas capacidades para dirigir e praticar esportes.
  • Não incentivar as meninas a terem como único objetivo ser dona-de-casa e mãe, nem os meninos a buscarem mulheres com esse perfil. Estimular, portanto, que amb@s alimentem sonhos e desejos genuínos capazes de lhes garantir segurança e dignidade durante a vida adulta.
  • Combate ao pensamento de que homem que fica com muitas é garanhão, mulher que fica com muitos é galinha. A liberdade sexual é para tod@s e pode ser estimulada com consciência e responsabilidade, sem pré-julgamentos de gênero.
  • Reflexões internas sobre as posturas adotadas (São preconceituosas? São sexistas? Desejo isso para minha vida? Me coloco no lugar do outro?) e tentativa de mudança comportamental pessoal.
Confesso que não sei se essas atitudes tornariam o Brasil um país modelo em termos de consciência de gênero, mas certamente já avançaria em vários aspectos. Como falei anteriormente, essas idéias não são minhas, mas o reflexo do que pensa um determinado grupo social que objetiva a igualdade. Se você acha que há outras questões que não foram abordadas aqui, deixe um comentário com sua contribuição para que possamos, pelo menos no plano das idéias, construir um espaço (e um Estado) mais democrático.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Chris
Tudo bem. Antes de tudo devo dizer que gostei dos comentários. Apenas para aclarar o quis dizer no artigo sobre "política", embora hoje tendo condições de visualizar melhor as ações e assuntos gerais em relação a este governo, tenho acompanhado por anos a fio e acho que este é um dos piores por fazer o povo, que realmente depende diretamente do poder executivo, sofrer, amargar situações de espera, por dissimulação: diz e não cumpre, descaracteriza a lei aleatoriamente, não respeita os outros poderes. Crises pelas quais passamos com incoerência dos atos, conveniência em favor próprio, falta de critério de julgamento, falta, mesmo, de observação de situações que se acumulam e se transformam em colapsos, por isto, a matéria. Desculpe-me a réplica, mas é no sentido de me fazer entender, pois muitas vezes, dentro de um contexto tão complexo como a política e seus integrantes, ao elaborarmos um assunto, deixamos escapar tantas coisas...
Quanto ao seu texto: muito bom! Pertinente sempre, claro muito bem detalhado nas questões propostas. Indica caminhos do viver e conviver sem conflitos, do que trata a valorização da vida. Que bom seria se as pessoas se conscientizassem de fato e começassem a agir.
Vivi minha juventude praticamente nos anos 70 e foi exatamente nessa época que a rebeldia contra tudo que limitava o ser humano (principalmente a mulher) começou por aqui e pelo mundo. Sempre fui totalmente contra o machismo exacerbado, dando plenos poderes aos homens, em tudo, como muito bem você colocou. De certo modo, apesar da educação errônea dos pais exaltando o homem como o centro de todas as coisas, em muitos casos a mulher é também a principal culpada nesse jogo de poder, por se deixar conduzir, por uma postura subserviente, submissa e quase sempre de forma masoquista: gostando, se condicionando.
Analise friamente se no caso daquela garota - Eloá, que embora tendo pouca idade, por estar com as suas faculdades mentais em equilíbrio, acredito que convivendo com uma pessoa que já apresenta algumas reações agressivas, daria para perceber alguns traços de uma personalidade doentia. O mal do ser humano é querer pagar pra ver. Não ter critério e estrutura na decisão de cortar o mal, antes que ele se instale. É o que sempre digo: os equívocos das pessoas as conduzem à autodestruição. Num relacionamento o importante é que um não iniba a personalidade do outro, seus gostos, seus valores. Cada um é um universo. O fato de estarem juntos pelo sentimento, não se impõe domínio, pois ai se instala uma relação de hipocrisia, falsidade, intolerância e medo. Isto é doentio. Creio que uma relação para ser duradoura e feliz não precisa de muitos sacrifícios, apenas respeito mútuo. Esta é somente a minha óptica pessoal.
Abraços.
Suzeti.