Live and let live?

Me peguei um dia desses comentando que era melhor “live and let live”, ou seja, deixar que as pessoas tomem as decisões por conta própria e arquem com as conseqüências elas mesmas. Parei para pensar se realmente aplico essa filosofia na minha vida e cheguei a conclusão que a resposta é, em partes sim, em partes não.

Porque a filosofia “viva e deixe viver” não quer dizer aceitar tudo, achar que todo mundo pode tudo e viver alienado sem criticar nada. É claro que eu não vou interferir se uma pessoa comenta que usar decoração de Halloween é trazer maldição para dentro de casa, como ouvi recentemente, mas não posso deixar de criticar esse tipo de pensamento. A crítica me faz crescer, separar o joio do trigo de acordo com o que é melhor para mim. Não tenho o direito de invadir a casa da pessoa com abóboras e bruxas, mas posso comentar junto aos meus amigos o quanto julgo essa atitude ignorante. Outro exemplo: também não posso impedir que uma amiga se case por interesses financeiros, mas não vou deixar de considerar uma atitude degradante só porque “cada um sabe de si”. E assim por diante.

É nesse sentido que me considero intolerante. Acho que quem não critica é pobre de caráter. Logicamente que, criticando, estamos sujeitos aos julgamentos infelizes, mas os erros também são parte do processo. Para mim, vale até mudar de idéia de um dia para o outro, só não vale ficar parado posando de santo que não acha nada errado. A crítica é a maneira que tenho de mostrar ao mundo que estou insatisfeita. E a insatisfação é o primeiro passo para a mudança de comportamento ou situação.

Na realidade, eu uso o “viva e deixe viver” como um mantra que repito para mim mesma, no sentido de não ficar querendo consertar o planeta sozinha, fazendo tudo o que os outros fazem mal-feito. É uma tentativa de evitar o perfeccionismo que várias vezes me fez carregar o mundo nas costas.

Graças aos deuses eu sei tolerar e conviver muito bem com as diferenças. Mas, na mesma medida, não aposentei meus neurônios críticos diante da hipocrisia, da estupidez e do próprio preconceito.