Guerra dos sexos e amizade

Eu tenho amigos muito tranqüilos e amigas um tanto barulhentas. Naturalmente, essas características somadas à quantidade maior de mulheres em relação aos homens, fazem com que, em nos nossos círculos sociais (salas de estar, mesas de bar, confraternizações familiares...), se escutem muito mais as vozes femininas do que as masculinas. No entanto, engana-se quem pensar que estamos discutindo exclusivamente moda, cosméticos e guerra dos sexos. Claro que esses assuntos podem vir às pautas, mas dificilmente permanecem por muito tempo. É claro também que uma ou outra vez há quem solte a pérola sexista de que “isso é coisa de mulher e homem não entende” ou vice-versa, mas que logo é contornada por discussões e argumentos de que essa segregação (assunto de homem, assunto de mulher, todo homem isso, toda mulher aquilo...) é nociva e não ajuda a quebrar o machismo, e apenas o incentiva.

Eu gosto de observar isso em reuniões estritamente femininas. Não tenho absolutamente nada contra, e acho até saudável, que existam encontros de amigas e de amigos, independente do pensamento limitador de que as mulheres só se encontram para ir ao shopping e os homens para beber ou jogar futebol. Seja qual for o programa escolhido, não acredito que encontros exclusivamente femininos ou masculinos prejudiciais, desde que não se gere uma situação doentia (ex: a esposa chega em casa na hora do pôquer e os amigos do marido acham que ela “estragou tudo”, ou o namorado que vai buscar a namorada na casa das amigas ser impedido de entrar por uns minutos porque only girls are allowed).

Mas uma coisa que não aprovo muito é o quesito “chá de panela” versus “despedida de solteiro”. O que uma coisa tem a ver com a outra? O primeiro é um evento para reunir presentes domésticos, enquanto o segundo remete a um último dia “livre” para aquele homem que está prestes a ser “amarrado”. No primeiro, brincadeiras e discursos pornográficos; no segundo, álcool, strippers e às vezes, prostitutas. A diversão da noiva é a casa, a diversão do noivo são outras mulheres.

Há também o chá de bebê, também restrito, em sua maioria, aos grupos femininos. Na minha humilde opinião, esses estereótipos são retrógrados. Que seja feito chá de panela com ambos os noivos e com participação mista, afinal de contas, os dois vão dividir a casa e utilizar a cozinha. Se houver despedida de solteiro, que valha para ambos, com os mesmos direitos e os mesmos limites (nada disso de “mulher é mais tolerante” ou “homens tem necessidades”, for godsake!) E o chá de bebê? Acaso o filho é só da mulher? Se ambos vão cuidar da criança e serão responsáveis por ela, porque limitar a participação do pai e dos outros homens que vão conviver com o futuro nascido numa comemoração desse tipo? E se for o caso do pai solteiro, que haja um chá de chupeta para ajudá-lo também.

É por essas e outras que eu penso no quão difícil é retirar o machismo inerente à nossa cultura. É preciso ousar, estar disposto a quebrar padrões e até tradições para evitar a perpetuação de idéias aparentemente inocentes, mas que podem ter sérias repercussões futuras.

É bom saber que as preferências de minhas amigas e meus amigos estão, em sua maioria, de acordo com a personalidade de cada um e não de papéis definidos de gênero. Se os meninos falam de videogame e as meninas de cinema, se eles gostam de heavy metal e elas de pop-rock, é porque se identificam com esses temas e não porque isso ou aquilo é coisa de macho ou assunto de fêmea. E o melhor de tudo, é que em meio a essa tentativa de viver em um mundo menos machista, me afino com pessoas intelectualmente excitantes e isso, sem querer parecer muito poético, é uma das coisas que fazem a vida valer a pena.

4 comentários:

Natalia disse...

é isso aí, Chris...IGUALDADE ENTRE OS SEXOS

por isso que o chá de panela de Raffa vai ser do balacobaco...vai separando as notas de 1 real

hahahahahaahahahahahahahaha

thiagoleal disse...

Cara, acho que é por isso que às vezes tenho aversão à idéia de casamento. Não é por causa das mulheres ou dos homens... é por causa do ser humano.

Acho que mulher também faz despedida de solteiro... mas concordo que isso, pelo menos culturalmente, é mais atribuído aos homens. E também não entendo porque homens não participam de chás de bebês ou chás de cozinha.

Mas acho esse papo de clube do Bolinha, clube da Luluzinha algo nojento. Cara... é nessas horas que todo o meu esforço para ter amigos, especialmente novos amigos, vai por água abaixo. Porque quando começa com esse papo - esse ENTRE OUTROS - eu penso logo "Porra, Bolinha ou Luluzinha o caralho! Meu clube sou eu! Eu e apenas eu". Porque pelo menos eu me entendo - e aí não é coisa de necessidade feminina que homem não entende, necessidade masculina que mulher não entende... é necessidade individual, e se a porra de cada ser vivo independente é chamado de INDIVÍDUO, é porque ele tem necessidades individuais.

Na boa, eu seria mais feliz se meu grupo fosse formado por quatro pessoas. Eu, um amigo e duas amigas. Tudo muito simétrico. E nem um, obviamente, tocaria no outro. Mas seríamos apenas nós quatro e todo contato com o mundo social seria apenas para tirar onda e rir das outras pessoas.

Eu passo horas e horas tentando criar coisas palpáveis, pensando em nomes, em estórias, em livros, filmes, em um sanduíche, uma dúvida mortal entre pasta de atum e queijo... e tenho que lidar depois com sexismos, coisas como o fato de algo ser "coisa de mulher" e por isso eu não entendo, "coisa de homem" a respeito de um jogo de futebol ou de hóquei... isso realmente me desestimula. É aí que percebo que minha realidade virtual é menos pseudo-moralista.

Eu sou perseguido na minha família porque quero um tratamento igual entre mulheres e homens. E sou perseguido quando, por acaso, critico certos comportamentos supostamente femininos... mas quando critico certos comportamentos supostamente masculinos, também sou.

Definitivamente, as pessoas deviam viver sozinhas. Gravidez deveria ser gerada apenas por inseminação artificial. Porque sempre que tem duas pessoas e uma harmonia, surge um complexo para quebrar essa hermonia. E o sexismo é o pior desses complexos.

E não pense que, por o mundo ser machista, a situação das mulheres é pior: a pressão sobre os homens é grande. Muitas das coisas que mulheres recriminam são obrigadas aos filhos pelos próprios pais. Claro, existe a opção de quebrar essa imposição, e isso é bom. Eu gosto de ter uma opinião assexuada. Na verdade, é uma das poucas coisas que gosto quanto a mim mesmo. Mas tudo que você tenta construir esbarra na sociedade. Realmente, é difícil, mas por outro lado é bom, também.

Acho que por isso eu tenho vontade de ter uma filha... porque seria muito importante para mim educá-la de modo a quebrar esses padrões.

É como costumo dizer... eu não estou aqui para vencer. Tipo... entrei na luta para perder. Mas perder de um modo que eu cause estrago o suficiente para que todo mundo perca comigo.

Esse papo de mulher e homem pra mim se resolve bem melhor no instinto...

K. disse...

adorei o texto e super concordo

especialmente com a parte chá de panela x despedida de solteiro

minha amiga casa o ano que vem e eu tava querendo levar ela pra uma casa de stripper e muita gente ficou DE CARA

ahauahauaha

:****

Rafaela Paiva disse...

Já vi que to lascada, kkkkkkk.... por isso que rafa vai ter um chá de panela e uma despedida, porque festa e comigo mesmo ;P
Ah e com toda certeza se, somente se, um dia eu vier a ter filho o chá será com a presença do pai e da mãe, orasss... afinal o filho é dos dois :P
Escreve mais vai...